IDOSO: GRUPO DE RISCO, GRUPO DE VIDA

Ao se falar em grupo de risco no contágio do coronavírus, somos levados a pensar apenas de riscos físicos. Provavelmente você já pensou nos impactos sobre crianças, sobre divórcios, sobre violência doméstica, sobre as mulheres, mas e sobre os idosos? Você sabia que, embora a taxa de depressão tenha uma incidência comparativamente menor entre os idosos, a taxa de suicídio nesse grupo é bem maior? Será que poupar nossos idosos de irem ao supermercado ou à igreja basta para que eles efetivamente não morram? As evidências científicas apontam que não!

Embora possam abater qualquer pessoa, os impactos que a vida moderna têm sobre esse grupo parece potencializar os riscos de morte. Um ritmo de vida muito mais caótico que os de sua juventude, o caos tecnológico cada vez mais excludente, o colapso das estruturas e laços familiares em contraposição à pressão econômica para sustentar filhos e netos; e o fracasso dos sistemas de crença podem se constituir como catalisadores de uma crise que certamente não começou e nem vai terminar com a pandemia.

A readequação a que os idosos estão sujeitos transcendem a ordem social e econômica da atualidade pelo que se propõe um debate mais individualizado, de escuta individualizada. Talvez seja mais fácil de lidar com a necessidade da vovó que chora no consultório após se consultar em vão com três médicos diferentes, durante oito meses, em hospitais públicos, mesmo tendo um problema simples que com a falta estrutural no sistema de saúde. Teria sido mais fácil ouvir e ajudar o senhor de 74 anos que se jogou de seu apartamento ao saber que não poderia mais o custear que mudar a necessidade de lucro do sistema financeiro. Jogar a responsabilidade para o outro ou simplesmente para o governo não repercute em significados e resultados.

As nuances deste e de qualquer trabalho ligado à saúde mental não tem a pretensão de substituir a verdade, pela norma estatística; de mudar o lugar da observação da subjetividade, pelo empirismo moderno. As ações podem ser simples, individuais, menores, ou até quase invisíveis, mas que, em conjunto, parecem surtir melhores efeitos compassivos e de maior estabilidade.

Entre os diversos aspectos a observar, a ciência vem destacando os sentimentos de solidão, desesperança, inutilidade, desrespeito e menosprezo como fortes precursores de doenças mentais e suicídio entre idosos. Outros estudos, sugerem que idosos sejam reinseridos em redes sociais com diferentes tipos de amizades, inclusive fora de seu contexto social, cercadas por sentimentos de altruísmo e de solidariedade. Além disso, a promoção de ações sociais em grupo de atividades físicas, religiosas, de voluntariado vêm se consolidando como formas primárias na promoção de um envelhecimento mais ativo e com melhor qualidade de vida.

A possibilidade de falar e ser ouvido, seja pelo telefone, seja pela internet, traz uma ressonância significativa de apoio entre os idosos. Além disso, a reciprocidade de interesses, de cultura e de um fundo social comum são também estratégias bastante encorajadas em serviços de apoio aos idosos em diversos países.

Deste modo, se, por um lado, estão presentes eventos estressantes, ameaças, sofrimento, perigos e condições adversas que levam os idosos à vulnerabilidade e até à morte, por outro, encontram-se resiliência, reminiscências, forças e a capacidade de reação e de enfrentamento que fazem parte do mundo dessas pessoas e de todos nós. Sob esses olhares, é possível novas ressignificações de vida, novos sentidos de vida como modo singulares da prevenção e do exercício de direitos que pertence a todos nós, não importando se é ou não idoso, mas porque simplesmente é ser humano.

 

Autor

  • Originário de Brasília, desde cedo me inclinei para a curiosidade científica e analítica da psique humana. Ao concluir psicologia, tenho me vislumbrado com as profundezas da psique humana por meio da psicanálise. Minha vivência na Europa permitiu expandir teorias e visões de mundo por meio de profundos contatos profissionais e culturais. O retorno ao Brasil teve grande impacto ao expandir minha atuação profissional na clínica psicológica e na educação superior. Minha trajetória pessoal e profissional é marcada pela busca constante de compreensão das complexidades da mente humana e das interações sociais, sempre objetivando a promoção do bem-estar e a expansão dos limites da narrativa pessoal, social e até mesmo corporativa.

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